terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A motivação do Xadrez Político no Espírito Santo

Por Ronaldo Almeida (*)

Uma vaga e vários nomes, este é o terceiro capítulo do enredo que publicamos, sobre a disputa pelo comanA motivação do Xadrez Político no Espírito Santo 1do do Palácio Anchieta, que está em jogo nas eleições deste ano.

No artigo anterior “Todos Contra Casagrande”, fizemos uma dissertação dos postulantes Erick Musso, atual presidente da Assembleia Legislativa, Audifax Barcelos, ex-prefeito da Serra e o Govenador, em seu segundo mandato, Renato Casagrande, que disputará a reeleição para comandar o Estado pela terceira vez.
Hoje os personagens são outros e vamos falar um pouco sobre a trajetória e as movimentações dos pré-candidatos ao governo, prefeito de Linhares Guerino Zanon, do ex-deputado federal Manato e do Senador Fabiano Contarato.
Manato
O médico e ex-deputado federal Carlos Humberto Manato, percorre uma trajetória vitoriosa mas discreta em seus quatro mandatos na Câmara Federal. Com base política na Grande Vitória, especificamente na Serra, o auge da sua carreira foi em 2018, quando desistiu de disputar a reeleição de deputado federal, para concorrer ao cargo de Governador.
Panorama Politico
Em 2018 as eleições em solo espírito-santense, serão lembradas por um cenário totalmente conturbado nos bastidores da classe política capixaba.
A desistência em cima da hora, do então govenador Paulo Hartung de concorrer à reeleição, pegou todos de surpresa, deixando a base hartunguista, apoiadores e aliados totalmente desnorteados, sem ter com quem contar para conduzir o grupo.
Em meio ao caos instalado, houve um verdadeiro “salve-se quem puder”, com grupos políticos se formando e se desfazendo a cada minuto.
Ao fim das eleições, a carnificina foi completa, o resultado foi a derrota de vários medalhões e nomes fortes da política capixaba, casos como dos ex-deputados e ex-vice-governadores Lelo Coimbra e César Colnago e dos ex-senadores Ricardo Ferraço e Magno Malta, só para citar alguns, entre vários dos que ficaram pelo caminho.
E foi com esse clima de “terra sem lei”, que Manato, investido como representante da onda Bolsonarista que varria o país, foi para o campo de batalha.
Coragem
Mesmo em um jogo de cartas marcadas, a coragem e determinação de Manato em 2018, ao abrir mão de uma reeleição para Câmara Federal, quase que 100% segura, não pode ser desconsiderada.
Em uma luta, onde pode-se comparar a de Davi contra Golias, o seu desempenho, levando em consideração todas as adversidades com as quais concorreu, não foram ruins.
Fechadas as urnas e contabilizados os votos, Manato ficou em segundo lugar, recebendo mais de meio milhão de votos. Em números totais, ele obteve 525.973 votos, ou seja, 27/22% dos capixabas que foram as urnas em 2018, escolheram Manato para Governador.
Mas como antecipado por todas as pesquisas realizadas na época, ao final, prevaleceu o favoritismo de Renato Casagrande, sendo eleito para seu segundo mandato de Governador, com 1.072.224 votos, correspondendo a 55,49% da votação total. Este ano Casagrande vai mais uma vez para o embate.
Apesar de não ser eleito, Manato conseguiu eleger sua esposa Soraya, Deputada Federal.
Cair pra cima
A polarização das eleições de 2018, entre Manato e o atual Governador, fortaleceram muito seu capital político, o que o habilita a disputar o Governo Estadual novamente este ano.
De Deputado Federal pouco conhecido em 2018 por grande parte da população capixaba, principalmente nas cidades do interior, mesmo perdendo a eleição, o embate eleitoral lhe proporcionou visibilidade e conhecimento por parte do grande eleitorado capixaba, principalmente da base bolsonarista.
Articulações
Hoje mais do que nunca, Manato tem gastado toda sua energia, para tentar a todo custo, colar sua imagem ao do Presidente da República Jair Bolsonaro.
A estratégia adotada é se apresentar para o eleitorado, como um “Bolsonarista Puro Sangue” e atacar o Governador Renato Casagrande.
Partidos tidos como de Direita e Conservadores, são simpáticos ao nome e ao projeto de Manato.
Guerino Zanon
Político experiente, com quase trinta anos de vida pública. Ingressou na carreira política pelas mãos do ex-prefeito de Linhares e seu ex-padrinho político José Carlos Elias, no ano de 1993, quando foi convidado a assumir o cargo de Secretário Municipal de Planejamento da prefeitura de Linhares.
De lá para cá, soma-se em seu currículo, a espetacular façanha de ser eleito cinco vezes prefeito de Linhares e duas vez Deputado Estadual, com destaque para a votação que recebeu em 2006, quando concorreu pela primeira vez ao Legislativo Estadual, sendo eleito o Deputado Estadual mais votado da época com 65.704 votos.
Tido como um dos políticos mais próximos e aliado fiel do ex-governador Paulo Hartung, Zanon desde seu ingresso na política, sempre apoiou os projetos e as campanhas do ex-governador, de quem hoje, ele busca reconhecimento e retribuição, por todos os anos de fidelidade em forma de apoio ao seu novo projeto, que é disputar o Governo do Estado.
Dificuldades
Para viabilizar seu nome e concorrer ao cargo de Chefe do Executivo Estadual, Zanon já de largada, tem enfrentado algumas dificuldades, que para muitos, não são de fácil solução.
Uma delas é a negativa do seu próprio partido MDB, de lhe garantir apoio e a legenda, para que ele dispute o Governo do Estado.
O MDB que hoje é comandado no Espirito Santo pela Senadora Rose de Freitas, já está alinhado ao projeto de reeleição do Governador Renato Casagrande.
Outro ponto de dificuldade enfrentado pelo prefeito, é o racha interno dentro do MDB, que inclusive já foi judicializado, o que criou uma ruptura maior entre o grupo ligado ao ex-governador Hartung, que apoia o nome de Zanon e a Senadora Rose de Freitas, que tenta se afastar do grupo e é contra o nome de Guerino.
Movimentação
Guerino tem percorrido o Estado e o Brasil, atrás de um partido que aceite avalizar seu nome para que ele dispute o cargo de Governador, mas até agora com idas e vindas, entre Brasília e São Paulo, as portas que ele tem batido estão sempre fechadas.

Avaliação da
Classe Política
Em conversa com alguns Presidentes de partidos aqui no Estado, a versão que corre, é que, uma das grandes dificuldades na acomodação do nome de Zanon para um projeto tão grande, é o custo que isso traria para o partido.
Um dos pontos mais citados, é que, caso o partido aceite que Guerino concorra a eleição de Govenador, o Fundo Partidário seria usado quase que todo, para bancar os custos da campanha dele, com isso, os candidatos a deputados estaduais e federais perderiam boa parte desse precioso recurso.
Outro fato muito repetido pelos caciques políticos, é que Guerino não cumpre acordo, como exemplo, eles citam os vários partidos que sempre fazem parte da base de aliança das eleições de Zanon a prefeito de Linhares, que após eleito, nunca convida os partidos apoiadores para compor os quadros de sua gestão, também nunca foram convidados para sequer, fazer uma indicação do Secretariado.
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelo prefeito e pré-candidato ao governo, seu nome é respeitado e bem avaliado no meio político, podendo de uma hora para outra, ser lançado como uma opção de união dos partidos que querem apostar em um novo projeto para o Estado.

Fabiano Contarato
Natural de Nova Venécia, Noroeste do Estado, Contarato fez carreira como Delegado da Policia Civil em Vitória, onde se tornou conhecido, fixou raiz e se lançou no mundo político.
Tido como um político midiático, ele sempre soube usar como poucos, a impressa e os meios de comunicação, para dar visibilidade a suas ações mesmo quando exercia o cargo de Delegado.
Contarato sempre foi figura marcante na imprensa capixaba, onde aparecia com frequência, dando entrevistas com declarações fortes, criticando as leis brasileiras e o judiciário por sua morosidade na condenação de pessoas envolvidas em crimes, e na facilidade das mesmas conseguirem abrandamento das penas.
Todo este contexto construído ao longo dos anos, criou a imagem do “Delegado Linha Dura”, com grande admiração por parte da população.
Essa visibilidade conquistada, logo foi percebida pela classe política, o que lhe rendeu em 2015 o convite pelo então Governador Paulo Harung, para que Contarato assumisse o cargo de Diretor do Departamento de Transito do Espirito Santo (Detran-ES).
Atrito com a classe política
Já no início da sua gestão à frente do Detran, Contarato tomou uma medida que novamente lhe deu muita visibilidade, mas que ao mesmo tempo lhe rendeu muitas críticas por parte da classe política.
O fato de toda polemica, foi a divulgação de uma lista feita pelo Detran, contendo o nome de todos os motoristas com a CNH suspensa ou cassada por crimes ou infrações de transito.
Mais uma vez, todos os holofotes se voltaram para Contarato, o caso ganhou repercussão na imprensa, pois na lista continha o nome de vários prefeitos, deputados, vereadores, secretários e empresários conhecidos do Estado.
Ensaio
Eleito em 2018, Contarato já tinha ensaiado ser candidato em 2014 quando foi indicado para concorrer para o Senado, pelo seu antigo partido, o Partido Republicano (PR), comandado no Estado pelo ex-senador Magno Malta. Na época ele desistiu da eleição alegando motivações pessoais.
2018
Em 2018 filiado no Rede Sustentabilidade (Rede), ele disputou e foi eleito senador com 1.117.036 votos, contrariando todas as previsões que apontavam os senadores Magno Malta e Ricardo Ferraço, que disputavam a reeleição como favoritos. Os dois perderam.
Bandeiras
Primeiro homossexual assumido a ser eleito para o Senado Federal brasileiro, Contarato durante sua campanha, levantou a bandeira em defesa da família, segurança pública, apoio aos direitos humanos e contra o aborto.
Sua postura foi interpretada na época, como bem alinhada as mesmas bandeiras defendidas pelo então candidato à presidência Jair Bolsonaro, candidato que durante a campanha ele não fez nenhuma crítica e hoje é tido como um dos seus principais algozes.

Articulação Política
Com um mandato feito em oposição declarada ao Governo Federal, Contarato tem atraído a simpatia da Esquerda e a fúria da Direita. No último dia 28 de janeiro, se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT), onde declarou que “sempre foi Petista”.
Hoje, o PT aposta em seu nome para concorrer ao Governo do Estado, mas a dificuldade matemática deste projeto, é dividir o eleitorado militante esquerdista entre o PT de Contarato e o PSB de Casagrande, onde ambos disputam o apoio e os votos da mesma base eleitoral.
Um desfecho provável ventilado até mesmo pelo ex-presidente Lula, é a composição entre o PT e PSB em uma federação partidária, onde os partidos caminhariam juntos em vários estados, cada um abrindo mão de um candidatura própria em determinado estado em troca do apoio em outro, de acordo com a prioridade de cada partido.
Um exemplo seria São Paulo, considerada a menina dos olhos do PT, que em caso de composição com o PSB de Casagrande, retiraria a candidatura de Contarato no Espírito Santo e também em Pernambuco, outro estado no mapa de pretensões do Partido Socialista.
Como visto, uma candidatura ao Governo do Estado, para muitos pretendentes, não depende só da vontade do candidato e do partido, existe toda uma manobra de interesses por trás, que vão se modificando a cada rodada de negociação.
Ricardo Ferraço que o diga, sobre essas movimentações em 2010.
(*) Ronaldo Almeida, é jornalista e Consultor Político

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